Há referências minuciosas (incluindo receitas e conjuros) de Fervedouros desde o século XVI, principalmente relatados por Bruxas e Bruxos de Évora.
Francisco Bethencourt, renomado historiador português, em sua obra "O Imaginário da Magia - Feiticeiras, Adivinhos e Curandeiros em Portugal no Século XVI" (Editora Companhia das Letras), nos revela relatos documentados de Bruxas e Bruxos do século XVI de Évora à Inquisição. Lembremos que a Inquisição em Portugal naquela época, não utilizava como prática corrente as torturas; assim sendo, tais relatos possuem veracidade, inclusive por dois outros aspectos:
a) A Feitiçaria não recebia penas severas, fazendo com que, em sua maioria, Bruxas, Bruxos e Feiticeiros retornassem ao seu Ofício tão logo cumprissem a pena (detenção, ter de assistir missas em dias de Ajuntamentos ou Conciliabulos - Sabás - que acabou por fortalecer a criação de Tradições sincréticas entre a Bruxaria e a Igreja, onde rituais e Devoções a Deuses, Deusas, Espíritos e Demônios ocorressem dentro do templo de Cristo, bem como rituais de
Bruxaria e Feitiçaria);
b) E também era um marketing poderoso para uma Bruxa ou Bruxo bem como Feiticeiros, o fato de terem sido chamados a depor ao "santo ofício", e ainda mais serem presos... sinal que possuíam fama e renome... e o fato de voltarem à ativa, aumentava sobremaneira a sua clientela...
O Fervedouro é utilizado para ferver a pessoa alvo do Feitiço. Há, então, Fervedouros de Amarração Amorosa, de Dominação, de Amansamento, de Maldição (lançando Feitiços de Azar, Doença, Fracasso, Derrota, Impotência, Loucura, Banimento, etc,), além de Fervedouros de Morte, que incluem ossos humanos, penas de coruja, penas de corvos, pedras d'Ara (pedras que guardam relíquias dos Santos em altares católicos, pedra esta sobre a qual o Ritual da Transubstanciação é feito pelos padres - lembrando, aqui, da importância simbológica que a Igreja assumia no imaginário mágico religioso da Península Ibérica de então, onde múltiplos elementos culturais, tais como Pagãos, Muçulmanos, Judaicos, Cristãos, etc, se mesclavam nas Tradições Bruxas e Feiticeiras), assim como pedras de cemitérios encruzilhadas, ruínas onde ocorreram tragédias, campos onde ocorreram batalhas e animais como os sapos, serpentes, morcegos, aranhas, escorpiões, etc.
Os ingredientes eram postos a ferver em caldeirões e panelas de barro, junto a testemunhos das pessoas a serem enfeitiçadas (cabelos, pedaços de roupas íntimas, etc) e enquanto borbulhava a mistura, a Bruxa ou Feiticeira dizia Conjuros, que enfatizavam as intenções do suplicante (a pessoa que encomenda o Feitiço), como os seguintes:
"Por Tição, por Carvão, por Lúcifer, por Caldeirão, e pela Madre de São Pedro, a Maior Diaboa que no Inferno está, no Caldeiro de Barzebu te cozo, debaixo de meu tacão te prendo, teu coração no cavo de mia mão trago, e nas tuas agoas estes pimentos atiço a arder-lhe do cu à moleira, te trazendo apaixonado, por Arte Feiticeira!"
"Eu te embuço com o buço do lobo e com o coração do homem morto e com três arrastados e com três enforcados e com três mortos a ferro que tu sejas meu marido."
"A vós foão
má noite vos quero dar
faço volta cama d'abrolhos
e o cobertor de carrapatos
e chinches e piolhos
que não possais dormir
nem assossegar
até que me não venhais buscar."
"Eu te mando chamar por três cavalos correntes e três lebres ardentes e três Diabos Valentes, Lúcifer e Barrabás e Caldeirão, que Eles vão e lhe travem do rinhão e de trezentas conjunturas que em seu corpo estão e de todalas que mais são, que não possa durar nem assossegar até que me não venha ver e buscar."
"Marta mana Marta namja a santa senão a diaboa que leva o caldo aos enforcados, me leves a ter com meu bem amado foão, que o tomes pelo pulmão e pelo rinhão e pelo coração e por trezentas e sessenta conjunturas que no seu corpo são e mais se mais são e mo tragas para que me dê quanto tiver e faça o que eu quiser e diga quanto souber."
"Marta o Mar d'Espanha passeis e varas d'azimbro apanheis e na mó de Barzabu as moei e no coração de foão as tancheis que seja manso."
"Lá te mando Satanás e Barrabás e Lúcifer Tição e Caldeirão e todolos Diabos d'aquém e d'além que todos vos ajunteides e pelo campo de Josafat iredes e uma vara de zimbro me colheredes e na maior fragua do maior Diabo aguçaredes e no coração de foão a meterdes para que ele não possa comer nem beber nem dormir nem assossegar até que a não viesse buscar e dar-lhe do que tiver e dizer quanto souber."
Já nos Fervedouros de Morte, as Forças das Trevas são chamadas a atormentar a pessoa enfeitiçada até sua vida se esvair por completo...
A Oração da Cabra Preta Infernal, um Devotio à Deusa Lusitana Atégina, Senhora Bruxa do Submundo e da Magia Negra, faz parte das práticas e ofícios da Coeva Ilur Ébura Akelarrea Sabbathis, do Clã da Cabra Preta, descendente dos Devotos de Atégina. Essa Oração pode ser utilizada enquanto se conjura o Fervedouro de Maldição...
"Cabra Preta que desce ao Inferno,
levai convosco os meus inimigos,
aprisiona-os em grossas correntes,
a fustigá-los e atormentá-los,
por todos os séculos e séculos...
Deusa Bruxa e Feiticeira,
Cabra Preta Milagrosa,
Por Chicote, Tridente e Punhal,
Sejais Propícia a este/a Vosso/a Acólito/a,
nos haveres de Bem e de Mal...
Mãe Negra, Portadora da Luz,
Cabra Preta do Monte e da Estrela,
ressurja das Profundezas do Inferno,
Trazendo a nós, os Vossos Filhos,
a Luz da Sabedoria a arder,
Oh Atégina Cabra Lucífera,
entre os Vossos Benditos Cornos,
Vossa Bênção, Maldição e Poder!
Eko Eko Amazaráka Azaza Laylah
Akerra Goiti Akerra Beiti!"
Com as Bênçãos de Lagarrona a Bruxa de Évora, Cabar o Grande Mestre Bode do Sabá, Candabul o Bruxo, Sán Pietro Akerra e os Ancestrais Guardiães de Ilur Ébura Akelarrea Sabbathis... Akerra Goiti, Akerra Beiti...
\|/
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Assinar:
Postagens (Atom)